HOMO CIBERNETYCUS NÃO É HOMO DEUS

HOMO CIBERNETYCUS NÃO É HOMO DEUS: O DIVINO É A CONSCIÊNCIA

Por Jorge Melnick

Em seu último livro, Homo Deus: A Brief History of Tomorrow, o historiador israelí Yuval Noah Harari descreve de maneira magistral, e em linguagem simples e direta (estilo best seller) o caminho do Homo Cyberneticus (na metáfora da Última Bifurcação) que ele chama de Homo Deus.
Harari prediz que o resultado da fusão entre a bilogia e a tecnologia produzirá um nova raça de super humanos, seres imortais com uma prodigiosa inteligência, mas sem consciência. O livro também apresenta o fim do Humanismo, que será substituído por uma nova ideologia: o Dataismo - o culto à informação.
O livro apresenta um resumo acabado da história recente da humanidade (penso que deveria ser leitura obrigatória do ramo da história nos colégios) e descreve com riqueza de detalhes o caminho da direita na Última Bifurcação. A sentença de Harari sobre o caminho da esquerda é lapidaria: o homo sapiens vai a caminho da extinção.
Harari se pergunta pelo o destino dos seres humanos quando a grande maioria das forças de trabalho foi substituída por máquinas super-inteligentes totalmente interconectadas e sem consciência. Essa pergunta me fez pensar nas poucas tribos indígenas que atualmente lutam para sobreviver em diferentes partes do mundo, e particularmente nas selvas amazônicas na América do Sul.
O tema esteve muito presente no carnaval do Rio de Janeiro este ano. E não somente na alegoria da escola da Imperatriz que trouxe o tema dos índios Xingú; também várias das outras escolas homenagearam as origens indígenas do povo brasileiro.
Esse povos, como disse há mais de 50 anos o antropólogo Francês Claude Levy-Strauss, não são primitivos: têm organizações sociais complexas, e na história mais recente alguns são profissionais: médicos, advogados, etc. Eles preferem seguir vivendo com suas selvas e com seus rios, e a única coisa que pedem é que a eterna expansão do humanismo liberal os deixem em paz.
Algo semelhante está acontecendo com o Dataismo, apenas ainda não nos damos conta e acreditamos que a tecnologia, que cada vez mais invade nossas vidas, não é mais um conjunto de ferramentas que podemos controlar o nosso serviço, quando na verdade a tecnologia é o Dataismo que vem, segundo Harari, substituir o Humanismo. A diferença é que os ameaçados não são o Xingu do Amazonas, nem os Omaticaya de Pandora; somos todos nós: você e eu! 
O caminho da direita, o do Homo Sapiens ou Homo Deus, que Harari descreve tão lucidamente, nos leva à Matrix e a entregar nossa liberdade ao "sistema". Podemos sobreviver na estrada da esquerda, o caminho da consciência?
 

Segundo Harari a ciência não conseguiu descobrir a origem da consciência, nem a sua utilidade evolutiva e, portanto, em um mundo dominado por algoritmos, a consciência não nos ajuda a sobreviver. Eu discordo. Nossa única vantagem evolutiva sobre as máquinas inteligentes interconectadas é que nós sim temos consciência. Não só podemos, mas devemos usar nossa consciência para evoluir e sobreviver.
A Neurociência nos diz que a consciência - o conjunto de emoções e experiências que observamos e sentimos - nada mais é do que o resultado de um enorme número de circuitos bioelétricos em nosso cérebro. Eu penso que a consciência é mais do que isso: vivemos em um mundo quântico que só se materializa quando o observamos, e a observação do mundo é certamente a função principal da nossa consciência.
Mas, sem dúvida, estamos vivendo em tempos absolutamente extraordinários: o surgimento de uma nova espécie na Terra; o nascimento do Homo Cyberneticus e o início de um novo jogo evolutivo. Nós somos seus antepassados tal como chimpanzés e bonobos (poucos que restaram vivem em uma grande reserva na África, onde são cuidadosamente estudados por cientistas de todo o mundo) são os nossos.
A consciência é o nosso laço com o divino, o profundo mistério de nossas origens de que falam todos os mitos da humanidade, desde o mito de Gilgamesh até o mito do Big-Bang. O Homo Cyberneticus não será Homo Deus porque o divino é a consciência.

 

Tradução: Dayana Seschini